Exemplos de Precursores Antigos


I Ching: 

Lu – a Conduta

Uma das obras mais antigas conhecidas na atualidade. Seus princípios fundamentais estão totalmente relacionados aos princípios do Humanitarismo, a exemplo de seu hexagrama número 10 (Lu – a Conduta): 

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Acima CH’IEN, O CRIATIVO, CÉU.
Abaixo TUI, A ALEGRIA, LAGO.
Lu  (A Conduta, o Caminhar) – Hexagrama nº. 10 do I Ching, que é uma síntese milenar da doutrina humanitarista:
“Acima o céu, abaixo o lago: a imagem da CONDUTA.
Assim o homem superior discrimina entre o alto e o baixo e fortalece desse modo a mente do povo.
O céu e o lago evidenciam uma diferença de altitude inerente à essência dos dois, e que, por isso, não desperta inveja.
Assim também entre os homens há, necessariamente, diferenças de nível. É impossível chegar a uma igualdade universal.
Porém, o que importa é que as diferenças de nível na sociedade não sejam arbitrárias e injustas, pois nesse caso a inveja e a luta de classes inevitavelmente se seguiriam.

Se, ao contrário, às diferenças de nível externo corresponderem diferenças de capacidade interna, e o valor interno for o critério para a determinação da hierarquia externa, a tranquilidade reinará entre os homens e a sociedade encontrará ordem.[Lu  – A Conduta (Trilhar) – Hexagrama nº. 10. I CHING: o Livro das Mutações, p. 56; grifos nossos]


Lao Tze:

“Se o governo me fosse confiado, o que mais temeria seria colocar-me em evidência. O Caminho Perfeito (o Tao) é plano e fácil de trilhar, mas as pessoas preferem as sendas tortuosas. (…) Os silos estão vazios. Todavia é possível encontrar pessoas ricamente vestidas (…), empanturradas de comida e encharcadas de bebida. Que nem sabem avaliar o total de suas riquezas. E quem assim acumula riquezas estimula o roubo. Essa conduta é totalmente contrária ao Tao.” (Tao-Te-King, Livro II, 53)

“Quando o governo é simples e indulgente, o povo é rico e generoso. Quando é formalista e intrometido, o povo é mesquinho e mostra-se descontente. (…) Se o governo é sem retidão, a retidão se converte em erro e o bem em perversidade. E iludido o povo torna-se confuso durante longo tempo.” (Tao-Te-King, Livro II, 58)


Confúcio:

“O homem superior pensa em seu caráter; o homem inferior pensa em sua posição. O homem superior busca o que é correto; o inferior, o que é lucrativo.” (Analectos, IV)

“O bom e o mau governo dependem dos dirigentes. Os cargos devem ser confiados, não aos favoritos do príncipe, porém somente aos homens capazes. As funções devem ser confiadas, não aos homens viciosos, porém aos homens eminentes por suas virtudes e por seus talentos.” (Chu-King, VIII, II, 5; grifo nosso)


Buda:

“O néscio pode associar-se a um sábio toda a sua vida, mas percebe tão pouco da verdade como a colher do gosto da sopa. O homem inteligente pode associar-se a um sábio por um minuto, e perceber tanto da verdade quanto o paladar do sabor da sopa.” (Dhammapada, 64-65)

“Contempla este mundo, adornado como uma carruagem real! Os néscios estão encarapitados nele, mas os sábios não estão presos a ele.” (Dhammapada, 171)

 


  Jesus:

Parábola do Semeador

“Eis que o semeador saiu a semear. Quando semeava, uma parte das sementes caiu à beirada do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra parte caiu nos lugares pedregosos, onde não havia muita terra; logo nasceu, porque a terra não era profunda, e tendo saído o sol, queimou-se; e porque não tinha raízes, secou-se. Outra caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram. Outra parte caiu na terra boa e deu frutos, havendo grãos que rendiam cem por um, outros sessenta, outros trinta por um.” (Mateus, 13:3-8; grifo nosso)

Parábola dos Talentos

“Pois [o Reino dos Céus] será como um homem que, viajando paro o estrangeiro, chamou seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, e a outro um. A cada um de acordo com a sua capacidade.” (Mateus, 25:14-15; grifo nosso)


– Platão:

Autor de várias obras relacionadas aos princípios do Humanitarismo, a exemplo de A República, que é um dos maiores clássicos da cultura do Ocidente, e da literatura mundial.

O que Platão disse permanece até hoje como um estudo interessante. Mas a sua ideia principal de adequar funções com capacidades e qualificações é tão inquestionavelmente correta que não pode ser ignorada impunemente.” [N. Sri Ram. On the Watch Tower (Na Torre de Vigia), p. 94; grifo nosso]

“Enquanto não forem, ou os filósofos reis nas cidades, ou os que agora se chamam reis e soberanos filósofos genuínos e capazes [N.A.: Platão usa esses adjetivos (genuínos e capazes) porque filosofia para ele é verdadeiro amor e vivência da sabedoria, a qual é muito mais do que conhecimentos intelectuais, como no Livro da Sabedoria, comumente atribuído à Salomão, que é dirigido aos governantes] e se dê esta união do poder político com a filosofia, enquanto as numerosas naturezas que atualmente seguem um desses caminhos com exclusão do outro não forem impedidas forçosamente de o fazer, não haverá tréguas dos males, meu caro Gláucon, para as cidades, nem sequer, julgo eu, para o gênero humano (…). Mas isso é o que há muito tempo hesitava em dizer, por ver como seriam julgadas paradoxais essas afirmações. Efetivamente, é penoso ver que não há outra felicidade possível, particular ou pública.” (Platão, A República. Livro VII, 473 d; grifos nossos)


Exemplos de Precursores Modernos


Francis Bacon:

Autor de obras clássicas relacionadas aos princípios do Humanitarismo, a exemplo de Da Proficiência e Avanço do Conhecimento Divino e Humano”; A Nova Atlântida”; e Novum Organum: Instauratio Magna:

“Se se objetar com o argumento de que as ciências e as artes se podem degradar, facilitando a maldade, a luxúria e paixões semelhantes, que ninguém se perturbe com isso, pois o mesmo pode ser dito de todos os bens do mundo, da coragem, da força, da própria luz e de tudo o mais. Que o gênero humano recupere os seus direitos sobre a natureza, direitos que lhe competem por dotação divina. Restitua-se ao homem esse poder e seja o seu exercício guiado por uma razão reta e pela verdadeira religião.” [Francis Bacon. Novum Organum: Instauratio Magna (Novo Instrumento: A Grande Renovação), Livro I, CXXIX; grifo nosso. Nota: Organum1) conjunto de princípios para uso em investigação filosófica e científica; 2) conjunto de obras de Aristóteles sobre a lógica e a arte de filosofar]

“Seria algo insensato, em si mesmo contraditório, estimar poder ser realizado o que até aqui não se conseguiu fazer, salvo se se fizer uso de procedimentos ainda não tentados.” (VI, p. 8) [Francis Bacon. Novum Organum: Instauratio Magna (Novo Instrumento: A Grande Renovação). Nota: Organum – 1) conjunto de princípios para uso em investigação filosófica e científica; 2) conjunto de obras de Aristóteles sobre a lógica e a arte de filosofar]


Thomas More:

Autor da obra A Utopia, um verdadeiro clássico da literatura mundial, cujos princípios estão profundamente relacionados com o Humanitarismo. O mesmo comentário de N. Sri Ram, acima, a respeito da República de Platão se aplica, naturalmente, à obra de Thomas More O que Thomas More disse permanece até hoje como um estudo interessante. Mas a sua ideia principal de adequar funções com capacidades e qualificações [e, portanto, um sistema de representação piramidal, tipo árvore invertida ou cascata]  é tão inquestionavelmente correta que não pode ser ignorada impunemente:

Dos Magistrados
Trinta famílias fazem, todos os anos, a eleição de um magistrado (…).
Dez magistrados e suas trezentas famílias escolhem um senador (…).
Finalmente os magistrados,  em número de mil e duzentos, após o juramento de dar os seus votos ao cidadão mais virtuoso e mais capaz, escolhem por escrutínio secreto e proclamam príncipe um dos quatro cidadãos propostos pelo povo;  porque a cidade [a república utopiana] sendo dividida em quatro seções [distritos], cada quarta parte [distrito] apresenta seu candidato ao principado.
O principado é vitalício,  a menos que recaia sobre o príncipe a suspeita de aspirar à tirania.  Os senadores são nomeados todos os anos,  mas só por graves motivos são eles mudados. Os outros magistrados são renovados anualmente.” (Thomas More. A Utopia. Rio de Janeiro, Ediouro, Coleção Universidade, 2001. p. 91; grifos nossos)

“Na educação da infância e da juventude (…) os primeiros cuidados são para o ensino da moral e da virtude de preferência aos das ciências e das letras. O mestre, na Utopia, emprega toda a sua experiência e talento em imprimir, na alma ainda tenra e impressionável da criança, os bons princípios que são a salvaguarda da república. A criança que recebeu o gérmen desses princípios guarda-os em sua carreira de homem, tornando-se mais tarde um elemento útil à conservação do Estado. É o vício que destrói os impérios e o vício é engendrado pelas más opiniões.” (Thomas More. A Utopia. Rio de Janeiro, Ediouro, Coleção Universidade, 2001. p. 172; grifo nosso)

“A salvação ou a perda de um império depende dos costumes dos que o administram.” (Thomas More. A Utopia. Rio de Janeiro, Ediouro, Coleção Universidade, 2001. p. 145)


Exemplos de Precursores Contemporâneos


Anna Kingsford e Edward Maitland:

Acima de Todas as Coisas Ensinem a Doutrina dos Graus ou Níveis Espirituais, Que Não Guardam Relação Com a Condição Externa da Vida

Vejam que acima de todas as coisas vocês ensinem a doutrina dos graus ou níveis espirituais. Os cristãos cometeram um sério erro ao requerer a mesma regra de todas as pessoas. Esses níveis são como degraus por meio dos quais se ascende do mais baixo para o mais alto. Eles são, propriamente, graus ou níveis espirituais, e não guardam qualquer relação com a condição externa da vida. Como todas as demais doutrinas, aquela das castas foi materializada.” [Anna Kingsford.  Clothed With The Sun. Being the Book of the Illuminations of Anna Kingsford (Vestida Com o Sol. Sendo o Livro das Iluminações de Anna Kingsford), p. 50; grifos nossos]


Annie Besant:

Autora de várias obras cujos princípios estão profundamente ligados ao Humanitarismo. Do mesmo modo que sua participação política na Índia, muito especialmente a sua proposta de uma Constituição para a administração autônoma da Índia, conhecida como The Commonwealth of India Bill [1925], que se constitui numa grande precursora, como tentativa de aplicação prática dos princípios do Humanitarismo:

O problema do momento é como encontrar o melhor homem, e depois colocá-lo no poder. Se vocês perguntarem: “O que você quer dizer por ‘o melhor’?” Eu respondo: “O mais sábio, aquele de vontade mais forte, o mais resoluto e o mais inegoísta.” Essas são as qualificações do Governante, e sem essas qualificações no Governante, nenhuma felicidade é possível para o Estado.” (Annie Besant. Os Ideais da Teosofia, p. 28; grifos nossos)

“Ralph Waldo Emerson ensinou a mesma lição. Em um de seus maravilhosos ensaios, ensinou a grande verdade de que a Natureza apenas se afigura cruel quando a ela nos opomos: ela é seu auxiliar mais forte quando você a ela se une; pois toda Lei que o aniquila quando você a ela se opõe, eleva-o quando você a ela se une. Toda a força que está contra você, enquanto você não acompanha a Lei, estará do seu lado quando você tornar-se uno com ela. (…) A Natureza é conquistada pela obediência; o Divino é encontrado em uma unidade de justiça e de amor.

Assim, a Fraternidade constitui, em sua plena acepção, uma Lei na Natureza. Não se pode deixar de enfatizar suficientemente esse ponto. Constitui o objeto do nosso trabalho que a Fraternidade passe a ser algo prático na sociedade, e nunca se tornará prático até que as pessoas compreendam que é uma Lei, não apenas uma aspiração. Quando descobrimos uma Lei na Natureza, não mais lutamos contra ela. Prontamente nos acomodamos no novo conhecimento e nos adaptamos às condições então compreendidas. Contudo, a Fraternidade é tão pouco conhecida em nosso mundo.” (Annie Besant. A Vida Espiritual, p. 113; grifos nossos)

“Por acaso as almas são iguais? Desde o seu próprio nascimento elas trazem o cunho da desigualdade. Ah! De que serve iludirmo-nos com palavras vazias de sentido? De que serve dizer dos homens que eles nascem iguais, e falar de uma igualdade universal que a natureza nega? Existe, na verdade, muita desigualdade social que podeis remover. Mas essa é muito menos importante. É a desigualdade natural que é muito mais importante. (…) Uma igualdade de oportunidades para todos – talvez a possais conseguir num futuro muito distante; mas uma igualdade de capacidades para as utilizar – isso nunca podereis conseguir. (…) De modo que temos que olhar de frente o fato de que Fraternidade não quer dizer igualdade, mas uma Fraternidade real de mais velhos e mais novos, uma grande família humana em que uns são muito mais velhos do que outros, e alguns são muito novos, muito ignorantes, e muito imprudentes. (…)
Ora, o nosso Ideal da Fraternidade aplicado ao Governo exige o poder para os mais cultos e não para os ignorantes (…) como encontrar os melhores? O Ideal é que sejam os melhores que governem; mas como encontrá-los, eis o problema. Cada um de nós que estuda deve tentar resolver esse problema, e as sugestões que aqui estou dando talvez contenham algumas indicações para essa solução.
Mas não poderão resolvê-lo enquanto não compreenderem a inutilidade da atual maneira de governar – ou de não governar – e enquanto não aceitarem o Ideal de que o Governo deve ser exercido pelos melhores. Quando concordarmos nisso, então poderemos reunir os nossos esforços para encontrar um meio de achar e escolher os melhores e colocá-los em situação onde bem sirvam ao país. E isso tem de ser feito por amor ao povo, ao povo que “perece por falta de sabedoria”, e que nunca, na sua ignorância, poderá se salvar.” (Annie Besant. Os Ideais da Teosofia, p. 32-34; grifos nossos)

O grande princípio [ou lei] da Reencarnação corre parelho com o princípio [ou lei] da Fraternidade, porém isso ocorre se o aplicamos e o convertemos em uma coisa positiva na vida quotidiana. Porque dessas diferenças de idade surgem todas as possibilidades de uma Sociedade ordenada e feliz.” (Annie Besant. A Fraternidade Aplicada às Condições Sociais. Em O Teosofista, p. 260, mar-abr/1939; grifos e colchetes nossos)


N. Sri Ram e Jai Prakash Narain: 

Sugestão (Annie Besant, N. Sri Ram e Jai Prakash Narain) de um Sistema Político Coerente com a Lei da Fraternidade Universal

“Algum tempo atrás Pandit Nehru, em um de seus discursos, lançou um tanto vagamente a ideia de que algum dia, ao invés do atual sistema de eleições para Parlamento indiano, algum sistema, menos direto e mais adequado às condições da Índia, pudesse ser considerado.

Desde então, o Sr. Jai Prakash Narain (…) tem mais definidamente proposto, no lugar da atual forma de democracia na Índia, um sistema algo similar ao proposto pela Dra. Annie Besant nos dias de sua atuação em favor da libertação da Índia.

Ela não pensava que a regra “um homem, um voto” fosse boa para qualquer país, e muito especialmente ela não a recomendava para a Índia. Desse modo, ela delineou, na sua proposta de Constituição “The Commonwealth of India Bill” [1925], um sistema que teria uma base bem ampla ao nível das vilas (e correspondentes nas cidades), com voto adulto e uma grande autonomia nesse nível, e então se estreitaria gradualmente como uma pirâmide, através do nível dos Distritos, dos Estados (ou Províncias), até o Governo Central. As franquias para esses Conselhos nesses níveis superiores deveriam estar baseadas em crescentes qualificações de serviço, experiência, educação, etc.

Seu esquema, se tivesse sido apoiado pelos outros líderes políticos da época, particularmente pelo Partido do Congresso, teria sido aceito pela população da Índia como um todo. O princípio de uma qualificação razoável para o voto, e para tornar-se membro dos Conselhos, teria sido firmemente estabelecido. Mas, seus apelos foram em vão. O Sr. Gandhi posicionou-se pelo sufrágio de massa, e isso decidiu a questão.

O Sr. Jai Prakash Narain também vislumbra uma base forte e praticamente auto-suficiente para os Conselhos das Vilas, vila significando também uma cidade pequena, um distrito, ou bairro nos grandes municípios, mas eleições indiretas desses Conselhos para o Conselho do Distrito, desse último para as legislaturas provinciais ou estaduais, e dessas para o Parlamento de toda a Índia.

O Sr. Jai Prakash Narain é ainda uma voz solitária no terreno inóspito das atuais condições políticas na Índia. A descrição dessas condições como um terreno inóspito pode parecer um exagero, mas quando vemos os vários interesses de grupos, que são tão influentes e a variedade de conselhos para os mais diferentes assuntos que precisam ser tratados, não podemos deixar de sentir a verdade da descrição da Dra. Besant acerca da democracia, em sua presente forma, como o governo por meio da ignorância de múltiplas cabeças.” [N. Sri Ram. On the Watch Tower (Na Torre de Vigia), p. 86; grifos nossos]


Jiddu Krishnamurti:

Mesmo um Pequeno Grupo Pode Inaugurar uma Sociedade Completamente Diferente

“Por que é que, no lar, na aula e no hostel, estão-vos sempre a dizer o que deveis e o que não deveis fazer? Decerto, é porque vossos pais e vossos mestres, como o resto da sociedade, não perceberam que o homem existe com a única finalidade de descobrir a Realidade ou Deus. Se mesmo um pequeno grupo de educadores compreendesse isso e aplicasse sua inteira atenção a essa busca, seria inaugurada uma educação de nova espécie e uma sociedade completamente diferente.” (A Cultura e o Problema Humano, p. 192; grifo nosso)


Maurice Duverger:

Admirável Sistema de Representação Tem Contribuído Mais para o Êxito do Comunismo Que a Doutrina Marxista

Concluiremos nosso breve exame das limitações e dos pontos consistentes do modelo marxista trazendo, em corroboração à nossa análise, duas citações de Maurice Duverger, seguramente um dos maiores cientistas políticos do século XX. Ao final da segunda citação, Duverger deixa claro que também tem reservas a esse modelo como um todo, mas não deixa de reconhecer que ele possui méritos organizacionais, pois afirma que os marxistas:

“(…) desenvolveram uma estrutura ainda mais original, repousando em grupos bem pequenos (de empresa, bairro, etc.), fortemente reunidos pelos processos do “centralismo democrático”, e, contudo, fechados graças à técnica de ligações verticais: esse admirável sistema de enquadramento das massas tem contribuído mais para o êxito do comunismo que a doutrina marxista ou o pobre nível de vida das classes operárias.” (Os Partidos Políticos, p. 40)

“Podemos pensar muitas coisas do Partido Comunista: porém devemos reconhecer que os mecanismos forjados por ele são de notável eficácia, e que não lhes podemos recusar certo caráter democrático, por causa deste cuidado constante de manter o contato da base, de estar “à escuta das massas”. (…) A força do Partido Comunista é a de haver estruturado um método científico que permite alcançar esses resultados, com a dupla vantagem do método científico: maior exatidão; e possibilidade de emprego por todos após uma formação satisfatória. Ainda mais profundamente, o valor desse método vem do fato de que essa força não é puramente passiva, não se limita a registrar as reações das massas, mas permite agir sobre elas, canalizá-las suavemente, prudentemente, porém profundamente. Pode-se deplorar o emprego da ferramenta: deve-se admirar sua perfeição técnica.” (Os Partidos Políticos, p. 93)


Ernst F. Schumacher: 

Todos os Assuntos Ligam-se a um Centro. O Centro Consiste de Metafísica e Ética. Se Tais Ideias Não Forem Fiéis à Realidade Conduzirão Inevitavelmente a uma Catástrofe

“Todos os assuntos, não importa quão especializados, ligam-se a um centro; são como raios emanando de um sol. O centro é constituído por nossas convicções mais básicas, pelas ideias que realmente têm força para nos mover. Por outras palavras, o centro consiste de Metafísica e Ética, de ideias que – gostemos ou não disso – transcendem o mundo dos fatos. Por transcenderem esse mundo, não podem ser provadas ou reprovadas pelo método científico comum. Isso não quer dizer, contudo, que elas sejam puramente “subjetivas” ou “relativas”, ou meras convenções arbitrárias. Têm de ser fiéis à realidade, embora transcendam o mundo dos fatos – um aparente paradoxo para nossos pensadores positivistas. [NA.: que defendem a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro] Se não forem fiéis à realidade, a adesão a tal conjunto de ideias tem de conduzir inevitavelmente a uma catástrofe.” (Ernst F. Schumacher. O Negócio é Ser Pequeno, p. 80; grifos nossos)

Apesar de as ideias do século XIX negarem ou eliminarem a hierarquia de níveis no universo, a noção de uma ordem hierárquica é instrumento indispensável à compreensão. Sem o reconhecimento de ‘Níveis de Ser’ ou ‘Graus de Significação’ não podemos tornar o mundo inteligível. Talvez a tarefa do homem – ou simplesmente, se se preferir, a felicidade do homem – seja alcançar um grau superior de realização de suas potencialidades, um nível de ser ou ‘grau de significação’ mais elevado do que lhe advém ‘naturalmente’: não podemos sequer estudar essa possibilidade sem o reconhecimento prévio de uma estrutura hierárquica. Na medida em que interpretarmos o mundo através das grandes e vitais ideias do século XIX, permaneceremos cegos a essas diferenças de nível, por termos sido cegados.” (Ernst F. Schumacher. O Negócio é Ser Pequeno, p. 82; grifos nossos)


C. B. Macpherson: 

A Democracia Participativa, ou Democracia do Futuro, na Visão do Professor C.B. Macpherson

“Volto finalmente à questão de como uma democracia participativa poderia funcionar se conseguíssemos os requisitos para chegar até ela. (…)

Se examinarmos as questões primeiramente em termos gerais, (…) o modelo mais simples que mais adequadamente pudesse ser chamado de democracia de participação seria um sistema piramidal com democracia direta na base e democracia por delegação em cada nível depois dessa base. Assim, começaríamos com democracia direta ao nível de (…) vizinhança – discussão concreta face a face e decisão por consenso majoritário, e eleição de delegados que formariam um conselho no nível mais próximo seguinte, digamos, um bairro urbano, ou subúrbio, ou redondezas. (…) Assim prosseguiria até o vértice da pirâmide, que seria um conselho nacional para assuntos de interesse nacional, e conselhos locais e regionais para questões próprias desses segmentos territoriais. Seja em que nível for, além do primeiro, em que as decisões finais sobre diferentes assuntos fossem tomadas, as questões teriam certamente de ser formuladas por um conselho. (…) Isso pode dar a impressão de diferir muito do controle democrático. Mas acho que é o melhor ao nosso alcance. O que é necessário, em cada estágio, para tornar democrático o sistema, é que os delegados encarregados das decisões e formulação dos problemas, eleitos desde os níveis inferiores, sejam politicamente responsáveis em relação aos que os elegeram, sendo passíveis de não reeleição.” (C.B. Macpherson. A Democracia Liberal: Origens e Evolução, pp. 110-111; grifos nossos)


Philip E. Converse: 

O Papel Decisivo das Elites

Outra conclusão de caráter geral, também da maior importância tanto teórica quanto prática, é a de que os grupos de consciência social mais abrangente (as chamadas elites) possuem um papel decisivo no desenvolvimento dos processos sociopolíticos em geral, fato que lhes imputa uma enorme responsabilidade, a qual quase sempre não é suficientemente bem reconhecida. Essa grande responsabilidade se constitui no quinto princípio fundamental do Humanitarismo. Philip Converse se referiu a essa imensa responsabilidade nos seguintes termos:

“Os amplos contornos das decisões da elite ao longo do tempo podem depender de uma maneira vital das correntes naquilo que é vagamente chamado de “a história das ideias”. Tais decisões por sua vez têm efeitos sobre a massa de cidadãos mais comuns. Mas, de qualquer participação direta nessa história das ideias e no comportamento por ela moldado, a massa é notavelmente inocente.” (Philip E. Converse. The Nature of Belief Systems in Mass Publics (A Natureza dos Sistemas de Crença na Massa). Em: APTER, D.E., org. Ideology and Discontent, p. 255; grifo nosso)