Os Princípios Fundamentais do Humanitarismo

“Como uma doutrina ou como uma filosofia sociopolítica o Humanitarismo está fundamentado em apenas cinco grandes princípios que, não obstante sua simplicidade aparente, englobam toda uma visão metafísica que, sintética e alegoricamente, está sustentada por duas colunas mestras que são o lema do Humanitarismo: UNIDADE NA DIVERSIDADE.  Esses dois aspectos centrais constituem a essência da Lei da Fraternidade Universal que, aplicada à humanidade, é o primeiro e mais importante princípio do Humanitarismo. Conforme procuraremos demonstrar nesta obra, essa perspectiva metafísica e esses princípios são de fundamental importância para o bem estar da humanidade. Esses cinco princípios são:

1 – Todos os seres humanos constituem uma FRATERNIDADE UNIVERSAL (entendida como uma lei universal da Natureza, aqui aplicada à humanidade como um todo);

2 – Todos os seres humanos possuem uma mesma origem e uma mesma natureza essencial e, portanto, IGUAL VALOR;

3 – Não obstante a sua unidade e igualdade essenciais, os seres humanos apresentam CAPACIDADES DIFERENCIADAS;

4 – O princípio ético que deve presidir a justiça e a harmonia possível na humanidade é a IGUALDADE DE OPORTUNIDADES, para viabilizar o pleno desenvolvimento das capacidades individuais diferenciadas;

5 – O princípio ético da RESPONSABILIDADE DAS ELITES, do qual também depende o advento das novas instituições sociais.

A Fraternidade da Humanidade: o Objetivo Único

O princípio ou lei da Fraternidade Universal da Humanidade engloba, na verdade, os outros quatro princípios acima apresentados. Esses princípios adicionais são importantes porque especificam os aspectos fundamentais do grande princípio ou lei da Fraternidade Universal da Humanidade (na verdade, seu axioma – Unidade na Diversidade – se aplica a todo universo manifestado). Portanto, na realidade, o objetivo único do HUMANITARISMO como movimento social, é a difusão e a aplicação prática do princípio ou lei da Fraternidade de todos os seres humanos, contanto que esse seja entendido apropriadamente.” (Arnaldo Sisson Filho. O Que Há de Errado com a Política? Fundamentos para uma Verdadeira Democracia. Capítulo 1, Introdução)


Grandes Ideias do Século XIX Negam a Hierarquia de Níveis no Universo

“Apesar de as ideias do século XIX negarem ou eliminarem a hierarquia de níveis no universo, a noção de uma ordem hierárquica é instrumento indispensável à compreensão. Sem o reconhecimento de ‘Níveis de Ser’ ou ‘Graus de Significação’ não podemos tornar o mundo inteligível. Talvez a tarefa do homem – ou simplesmente, se se preferir, a felicidade do homem – seja alcançar um grau superior de realização de suas potencialidades, um nível de ser ou ‘grau de significação’ mais elevado do que lhe advém ‘naturalmente’: não podemos sequer estudar essa possibilidade sem o reconhecimento prévio de uma estrutura hierárquica. Na medida em que interpretarmos o mundo através das grandes e vitais ideias do século XIX, permaneceremos cegos a essas diferenças de nível, por termos sido cegados.” (Ernst F. Schumacher. O Negócio é Ser Pequeno, p. 82; grifos nossos)


Afirmação Inequívoca da Influência das Elites

“(…) essa nossa geração parece exibir apenas uma compreensão espiritual muito rudimentar, enquanto que aparentemente desenvolvida em intelecto na máxima extensão possível. Essa é, de fato, uma época dura e materialista: um fragmento de quartzo brilhante é o seu símbolo apropriado. E contudo, de que “época” e “geração” estamos falando? Não daquela das massas, pois elas mudam apenas pouco de geração para geração: não, falamos sim da classe educada, os líderes de pensamento, os controladores e estimuladores das opiniões daquele grande grupo social intermediário, que se situa entre os altamente cultos e os brutamente ignorantes. Eles são os céticos de hoje, que são tão incapazes de se elevar à sublimidade das filosofias vedantina e budista quanto uma tartaruga de voar alto como uma águia.” [Helena Blavatsky. Collected Writings (Obras Completas), Vol. III, p. 104; grifo nosso]


Mundo em Má Condição Devido Religiões e Filosofias Distantes da Verdade

“Para serem verdadeiras, a religião e a filosofia devem oferecer a solução de todos os problemas. Que o mundo esteja em tal má condição moralmente é uma evidência conclusiva de que nenhuma de suas religiões e filosofias jamais possuíram a verdade (…).

As explicações corretas e lógicas sobre a questão dos problemas dos grandes princípios duais – o certo e o errado, o bem e o mal, a liberdade e o despotismo, a dor e o prazer, o egoísmo e o altruísmo – são tão impossíveis para elas hoje quanto o eram 1881 anos atrás. Elas estão tão longe da solução como sempre estiveram; mas para esses deve haver em algum lugar uma solução consistente, e se nossas doutrinas [NA: As doutrinas da Filosofia Perene, ou Esotérica] provarem sua competência em oferecê-la, então o mundo será rápido em confessar que essa deve ser a verdadeira filosofia, a verdadeira religião, a verdadeira luz, que dá a verdade e nada mais do que a verdade.” [Mahachohan, carta com Suas visões. Letters from the Masters of the Wisdom (Cartas dos Mestres de Sabedoria), 1st Series, n. 1, p. 9; nota, link e grifos nossos]


Os Sistemas Políticos Atuais Provaram-se um Fracasso: Deve Haver Responsabilidade das Elites em Relação às Massas

“O mundo em geral, e a cristandade em especial (…), bem como aos seus sistemas políticos e sociais (…), agora provaram-se um fracasso. Se (…) dizem: “Não temos nada a ver com tudo isso; as classes mais baixas e as raças inferiores (aquelas da Índia, por exemplo, na concepção dos britânicos) não podem nos preocupar e devem se arranjar da melhor forma que puderem”, o que acontece com as nossas belas profissões de benevolência, filantropia, reforma etc? Serão essas profissões uma farsa? E se forem uma farsa, poderá o nosso caminho ser o verdadeiro? Deveríamos nos dedicar a ensinar a uns poucos europeus, alimentados com o melhor da terra, muitos dos quais aquinhoados com as dádivas da obscura fortuna (…), e deixarmos que os muitos milhões de ignorantes, de pobres e desprezados, de humildes e oprimidos, tomem conta de si mesmos e do seu futuro da melhor forma que souberem? Nunca.” [Mahachohan, carta com Suas visões. Letters from the Masters of the Wisdom (Cartas dos Mestres de Sabedoria), 1st Series, n. 1, p. 7; grifos nossos]


É Necessário Mais Sábia Mescla do Alfa e do Ômega da Sociedade: Sem a Influência Suavizadora de Instituições Baseadas na Fraternidade e Aplicação Prática da Doutrinas Esotéricas o Mundo Não Evitará Catástrofes Nunca Vistas

Uma maior, mais sábia, e especialmente mais benevolente mescla do alto e do baixo, do Alfa e do Ômega da sociedade, foi determinada. A raça branca deve ser a primeira a estender a mão de solidariedade às nações mais escuras, a chamar o pobre e desprezado “negro” de irmão. (…)

Em vista do triunfo sempre maior e, ao mesmo tempo, do mau uso do livre pensamento e da liberdade (o reino universal de Satã, como Eliphas Levi a teria chamado), como poderá o instinto combativo natural do homem ser refreado de infligir crueldades e atrocidades que até agora nunca foram vistas, tirania, injustiça etc., senão por meio da influência suavizadora de uma fraternidade, e da aplicação prática das doutrinas esotéricas do Buda?” [Mahachohan, carta com Suas visões. Letters from the Masters of the Wisdom (Cartas dos Mestres de Sabedoria), 1st Series, n. 1, p. 4; links e grifos nossos]


Credos Exotéricos Geram Opressão e Luta. Somente Filosofia Esotérica Pode Gerar Estado Intermediário e Consequente Alívio do Sofrimento

“Sob a dominação e a influência dos credos exotéricos, sombras grotescas e distorcidas de realidades (…), sempre haverá a mesma opressão dos fracos e dos pobres e a mesma luta tempestuosa dos ricos e poderosos entre si mesmos. É somente a filosofia esotérica, [NA: A Filosofia Perene, ou Esotérica] a harmonização espiritual e psíquica do homem com a natureza, que, através da revelação de verdades fundamentais, pode trazer aquele tão desejado estado intermediário entre os dois extremos do Egoísmo humano e do Altruísmo divino e, finalmente, conduzir ao alívio do sofrimento humano.” [Adepto. Letters from the Masters of the Wisdom (Cartas dos Mestres de Sabedoria), 2nd Series, n. 82, p. 157; nota, link e grifos nossos]


Verdades Esotéricas: da Maior Importância Espiritual e Prática, Devendo Ser Destrutivas dos Erros do Passado e Construtivas de Novas Instituições de Genuína Fraternidade da Humanidade

As verdades e mistérios do ocultismo [N.A.: Da Filosofia Perene, Esotérica] constituem, de fato, um corpo da mais alta importância espiritual, ao mesmo tempo profundo e prático para o mundo como um todo. Contudo, não é como uma mera adição à confusa massa de teorias e especulação no mundo da ciência que eles lhes foram dados, mas sim por causa de suas implicações práticas sobre os interesses da humanidade. (…) Eles devem se provar tanto destrutivos quanto construtivos – destrutivos nos perniciosos erros do passado, nos velhos credos e superstições que sufocam toda a humanidade em seu venenoso abraço como a erva daninha mexicana; mas construtivos de novas instituições de uma genuína e prática Fraternidade da Humanidade, onde todos se tornarão co-laboradores da natureza (…).” [K.H. The Mahatma Letters to A.P. Sinnett (Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett), n. 6, p. 23; nota, links e grifos nossos]


Fraternidade, Reencarnação e Carma Resolverão Muitos Problemas

Para compreender a Fraternidade, devemos lembrar que a evolução se realiza por meio da reencarnação e sob a lei do carma. (…) Na medida que as ideias da reencarnação e do carma conquistarem as mentes do mundo ocidental, que tem o hábito de aplicar princípios à prática, penso que a Fraternidade sob a lei da reencarnação e do carma resolverá muitos dos problemas sob os quais o mundo está padecendo, em nosso tempo.” (Annie Besant. Os Ideais da Teosofia, p. 25; grifos nossos)


Grande Missão do Verdadeiro Altruísmo: a Elaboração de Claras Ideias Éticas e Deveres, e a Moldagem de suas Instituições

“O problema e grande missão da verdadeira Teosofia [N.A.: do verdadeiro Altruísmo, ou Sabedoria Divina] é a elaboração de claras e inequívocas concepções de ideias éticas e de deveres, as quais possam mais e melhor satisfazer os sentimentos retos e altruísticos em nós; e a moldagem dessas concepções para a sua adaptação em tais formas de vida diária onde elas possam ser aplicadas com mais equidade. Tal é o trabalho comum em vista para todos os que desejem agir de acordo com esses princípios. É uma tarefa laboriosa e requererá esforço árduo e perseverante, mas ela deverá conduzi-lo inconscientemente ao progresso, e não deixará nenhum espaço para aspirações egoístas fora dos limites traçados.” [Adepto. Letters from the Masters of the Wisdom (Cartas dos Mestres de Sabedoria), 2nd Series, n. 82, p. 158; nota e grifos nossos]


Princípio da Democracia do Futuro Num dos Livros Mais Antigos: o I CHING

I Ching: 10 – Lu (A Conduta e as Diferenças de Nível)

Imagem: Acima o céu, abaixo o lago.
A imagem da CONDUTA (Trilhar).
Assim o homem superior discrimina entre o alto e o baixo,
E fortalece desse modo a mente do povo.
O céu e o lago evidenciam uma diferença de altitude inerente à essência dos dois, e que, por isso, não desperta inveja.
Assim também entre os homens há, necessariamente, diferenças de nível. É impossível chegar a uma igualdade universal.
Porém, o que importa é que as diferenças de nível na sociedade não sejam arbitrárias e injustas, pois nesse caso a inveja e a luta de classes inevitavelmente se seguiriam.

Se, ao contrário, às diferenças de nível externo corresponderem diferenças de capacidade interna, e o valor interno for o critério para a determinação da hierarquia externa, a tranquilidade reinará entre os homens e a sociedade encontrará ordem.” [Richard Wilhelm. I CHING: o Livro das Mutações. Lu – A Conduta (Trilhar) – Hexagrama nº. 10, p. 56; grifos nossos]


Todos Podem Compreender as Questões Locais, Porém Isso Não Acontece com as Questões Nacionais e Internacionais

“Um camponês pode ser sábio nos assuntos de sua vila, mas a sua opinião sobre uma complexa questão internacional provavelmente não será iluminadora. Ele deveria ter sua voz ouvida no primeiro caso, não no segundo.” (Annie Besant. Os Ideais da Teosofia, p. 29; grifo nosso)


Frases de Winston Churchill, Espirituosas e Reveladoras,  Sobre Defeitos da Democracia Atual

“Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.”

“O melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano.”
(Fonte: www.pensador.com/frases_churchill_democracia/)


Francis Bacon Sobre a Necessidade de Novos Procedimentos Para Superar os Grandes Problemas

“Seria algo insensato, em si mesmo contraditório, estimar poder ser realizado o que até aqui não se conseguiu fazer, salvo se se fizer uso de procedimentos ainda não tentados.” (Livro I, VI) [Francis Bacon. Novum Organum: Instauratio Magna (Novo Instrumento: A Grande Renovação). Nota: Organum – 1) conjunto de princípios para uso em investigação filosófica e científica; 2) conjunto de obras de Aristóteles sobre a lógica e a arte de filosofar. Grifo nosso]


Acima de Todas as Coisas Ensinem a Doutrina dos Graus ou Níveis Espirituais, Que Não Guardam Relação Com a Condição Externa da Vida

“Vejam que acima de todas as coisas vocês ensinem a doutrina dos graus ou níveis espirituais. Os cristãos cometeram um sério erro ao requerer a mesma regra de todas as pessoas. Esses níveis são como degraus por meio dos quais se ascende do mais baixo para o mais alto. Eles são, propriamente, graus ou níveis espirituais, enão guardam qualquer relação com a condição externa da vida. Como todas as demais doutrinas, aquela das castas foi materializada.” [Anna Kingsford.  Clothed With The Sun. Being the Book of the Illuminations of Anna Kingsford (Vestida Com o Sol. Sendo o Livro das Iluminações de Anna Kingsford), p. 50; grifos nossos]


A Política Envolve o Bem Estar de Todos e Demanda as Melhores Mentes Com Espírito Desinteressado

“A política, que envolve o bem-estar e o progresso de todos que constituem o Estado e afeta outros Estados, é uma atividade séria, que demanda as melhores mentes com um espírito desinteressado, e não deveria ser um jogo de poder jogado com a preponderância de interesses pessoais e de grupo.” [N. Sri Ram. On the Watch Tower (Na Torre de Vigia), p. 82; grifo nosso]


Problema do Momento É Como Encontrar o Melhor Homem e Colocá-lo no Poder: Sem Isso Nenhuma Felicidade É Possível Para o Estado

“O problema do momento é como encontrar o melhor homem, e depois colocá-lo no poder. Se vocês perguntarem: “O que você quer dizer por ‘o melhor’?” Eu respondo: “O mais sábio, aquele de vontade mais forte, o mais resoluto e o mais inegoísta.” Essas são as qualificações do Governante, e sem essas qualificações no Governante, nenhuma felicidade é possível para o Estado.” (Annie Besant. Os Ideais da Teosofia, p. 28; grifos nossos)


Como Encontrar os Melhores É o Problema: Para Resolvê-lo Devemos Compreender a Inutilidade dos Atuais Sistemas de Governo

“Ora, o nosso Ideal da Fraternidade aplicado ao Governo exige o poder para os mais cultos e não para os ignorantes (…) como encontrar os melhores? O Ideal é que sejam os melhores que governem; mas como encontrá-los, eis o problema. Cada um de nós que estuda deve tentar resolver esse problema, e as sugestões que aqui estou dando talvez contenham algumas indicações para essa solução.

Mas não poderão resolvê-lo enquanto não compreenderem a inutilidade da atual maneira de governar – ou de não governar – e enquanto não aceitarem o Ideal de que o Governo deve ser exercido pelos melhores. Quando concordarmos nisso, então poderemos reunir os nossos esforços para encontrar um meio de achar e escolher os melhores e colocá-los em situação onde bem sirvam ao país. E isso tem de ser feito por amor ao povo, ao povo que “perece por falta de sabedoria”, e que nunca, na sua ignorância, poderá se salvar.” (Annie Besant. Os Ideais da Teosofia, p. 32-34; grifos nossos)


Os “Monarcas” Atuais São o “Rei” Dinheiro e o “Rei” Multidão, o “Reinado” de Nenhum Deles Engrandecerá a Nação

“Que dizer a respeito da política? Quanto aos detalhes, francamente, não tenho muito o que dizer, pois nesse momento estou preocupada apenas com princípios. (…) Voltemos na história da Inglaterra e encontraremos o governo dos Reis, e esse construiu a nação que é a Inglaterra. Então houve o governo dos Barões, e eles no conjunto não foram muito mal, pois a Inglaterra dessa época era chamada de Inglaterra Feliz (“Merrie England”), e certamente ninguém sonharia em aplicar-lhe agora esse título. Então veio a Inglaterra dos Parlamentos, tornando-se cada vez mais triste, cada vez mais enfraquecida; e depois a Inglaterra do Comercialismo. E quem é que hoje nos governa? Nem Reis, nem Lordes, nem Parlamento, mas de um lado o Rei Dinheiro (“King Purse”), e de outro o Rei Multidão (“King Mob”). Nenhum desses é um governante com probabilidade de engrandecer essa nação. A liberdade é uma grande Deusa celestial, forte, beneficente e austera, e ela não pode nunca descer sobre uma nação por meio dos gritos das multidões, nem pelos argumentos da paixão desenfreada, nem pelo ódio de classe contra classe.” (Annie Besant. O Mundo de Amanhã, p. 137-138; grifos nossos)


Estrutura Organizacional dos Partidos Comunistas Contribuiu Mais do Que a Doutrina Marxista

“(…) desenvolveram uma estrutura ainda mais original, repousando em grupos bem pequenos (de empresa, bairro etc.), fortemente reunidos pelos processos do “centralismo democrático”, e contudo fechados graças à técnica de ligações verticais: esse admirável sistema de enquadramento das massas tem contribuído ainda mais para o êxito do comunismo que a doutrina marxista, ou o pobre nível de vida das classes operárias.” (Maurice Duverger. Os Partidos Políticos, p. 40; grifo nosso)


Partido Comunista Desenvolveu Sistema Piramidal de Notável Eficácia Organizacional: Pode-se Deplorar o Uso, Deve-se Admirar a Técnica

Podemos pensar muitas coisas do Partido Comunista: porém devemos reconhecer que os mecanismos forjados por ele são de notável eficácia, e que não lhes podemos recusar certo caráter democrático, por causa desse cuidado constante de manter o contato da base, de estar “à escuta das massas”. (…) A força do Partido Comunista é a de haver estruturado um método científico que permite alcançar esses resultados, com a dupla vantagem do método científico: maior exatidão; e possibilidade de emprego por todos após uma formação satisfatória. Ainda mais profundamente, o valor desse método vem do fato de que essa força não é puramente passiva, não se limita a registrar as reações das massas, mas permite agir sobre elas, canalizá-las suavemente, prudentemente, porém profundamente. Pode-se deplorar o emprego da ferramenta: deve-se admirar sua perfeição técnica.” (Maurice Duverger. Os Partidos Políticos, p. 93; grifos nossos)


Sufrágio de Massa Sem Qualificações É um Equívoco

“Indubitavelmente cada homem é competente em sua própria esfera, para dizer o que ele quer para sua localidade ou vila, e para dizer quem irá servi-la melhor entre aqueles que ele conhece. Mas quando se trata de uma questão de decidir assuntos complicados, de abrangência nacional e internacional, é uma mera questão de bom senso que somente deveriam poder votar aqueles que têm algum conhecimento a respeito dessas matérias. E por essa razão é que a Dra. Annie Besant insistiu repetidamente, enquanto ela esteve ocupada com esses assuntos na política indiana, que a Índia não deveria, ao elaborar a sua Constituição, aderir aofetiche do sufrágio de massa sem qualquer tipo de qualificações.” [N. Sri Ram. On the Watch Tower (Na Torre de Vigia), p. 81; grifos nossos]


Sugestão (Annie Besant, N. Sri Ram e Jai Prakash Narain) de um Sistema Político Coerente com a Lei da Fraternidade Universal

“Algum tempo atrás Pandit Nehru, em um de seus discursos, lançou um tanto vagamente a ideia de que algum dia, ao invés do atual sistema de eleições para Parlamento indiano, algum sistema, menos direto e mais adequado às condições da Índia, pudesse ser considerado.

Desde então, o Sr. Jai Prakash Narain (…) tem mais definidamente proposto, no lugar da atual forma de democracia na Índia, um sistema algo similar ao proposto pela Dra. Annie Besant nos dias de sua atuação em favor da libertação da Índia.

Ela não pensava que a regra “um homem, um voto” fosse boa para qualquer país, e muito especialmente ela não a recomendava para a Índia. Desse modo, ela delineou, na sua proposta de Constituição “The Commonwealth of India Bill” [1925], um sistema que teria uma base bem ampla ao nível das vilas (e correspondentes nas cidades), com voto adulto e uma grande autonomia nesse nível, e então se estreitaria gradualmente como uma pirâmide, através do nível dos Distritos, dos Estados (ou Províncias), até o Governo Central. As franquias para esses Conselhos nesses níveis superiores deveriam estar baseadas em crescentes qualificações de serviço, experiência, educação, etc.

Seu esquema, se tivesse sido apoiado pelos outros líderes políticos da época, particularmente pelo Partido do Congresso, teria sido aceito pela população da Índia como um todo. O princípio de uma qualificação razoável para o voto, e para tornar-se membro dos Conselhos, teria sido firmemente estabelecido. Mas, seus apelos foram em vão. O Sr. Gandhi posicionou-se pelo sufrágio de massa, e isso decidiu a questão.

O Sr. Jai Prakash Narain também vislumbra uma base forte e praticamente autossuficiente para os Conselhos das Vilas, vila significando também uma cidade pequena, um distrito, ou bairro nos grandes municípios, mas eleições indiretas desses Conselhos para o Conselho do Distrito, desse último para as legislaturas provinciais ou estaduais, e dessas para o Parlamento de toda a Índia.

O Sr. Jai Prakash Narain é ainda uma voz solitária no terreno inóspito das atuais condições políticas na Índia. A descrição dessas condições como um terreno inóspito pode parecer um exagero, mas quando vemos os vários interesses de grupos, que são tão influentes e a variedade de conselhos para os mais diferentes assuntos que precisam ser tratados, não podemos deixar de sentir a verdade da descrição da Dra. Besant acerca da democracia, em sua presente forma, como o governo por meio da ignorância de múltiplas cabeças.” [N. Sri Ram. On the Watch Tower (Na Torre de Vigia), p. 86; grifos nossos]


Índia Deveria Desenvolver Novo Modelo de Democracia

“Se a Índia puder desenvolver uma forma de democracia na qual haja alguma chance para a necessária sabedoria chegar até o topo, ela estará, desse modo, servindo aos mais elevados interesses do seu próprio povo, bem como estará dando um exemplo que poderá ajudar e inspirar outros povos.” [N. Sri Ram. On the Watch Tower (Na Torre de Vigia), p. 82; grifo nosso]


A Democracia Participativa, ou Democracia do Futuro, na Visão do Professor C.B. Macpherson

“Volto finalmente à questão de como uma democracia participativa poderia funcionar se conseguíssemos os requisitos para chegar até ela. (…)

Se examinarmos as questões primeiramente em termos gerais, (…) o modelo mais simples que mais adequadamente pudesse ser chamado de democracia de participação seria um sistema piramidal com democracia direta na base e democracia por delegação em cada nível depois dessa base. Assim, começaríamos com democracia direta ao nível de (…) vizinhança – discussão concreta face a face e decisão por consenso majoritário, e eleição de delegados que formariam um conselho no nível mais próximo seguinte, digamos, um bairro urbano, ou subúrbio, ou redondezas. (…)

Assim prosseguiria até o vértice da pirâmide, que seria um conselho nacional para assuntos de interesse nacional, e conselhos locais e regionais para questões próprias desses segmentos territoriais. Seja em que nível for, além do primeiro, em que as decisões finais sobre diferentes assuntos fossem tomadas, as questões teriam certamente de ser formuladas por um conselho. (…) Isso pode dar a impressão de diferir muito do controle democrático. Mas acho que é o melhor ao nosso alcance. O que é necessário, em cada estágio, para tornar democrático o sistema, é que os delegados encarregados das decisões e formulação dos problemas, eleitos desde os níveis inferiores, sejam politicamente responsáveis em relação aos que os elegeram, sendo passíveis de não reeleição. (…)

Para resumir a análise até aqui feita da perspectiva de um sistema de conselhos piramidais como modelo de democracia de participação, podemos afirmar que na medida em que as condições para a transição a um sistema de participação forem conseguidas em qualquer país (…) um sistema piramidal poderia operar. (…)

(…) É muito mais provável que qualquer transição seja feita sob a liderança de uma frente popular ou uma coalizão de partidos socialistas ou social-democratas. (…) A questão concreta é, pois, se haverá algum meio de combinar uma estrutura de conselho piramidal com um sistema partidário em competição.

A combinação de um sistema democrático piramidal direto e indireto com a continuação de um sistema partidário parece essencial. Nada, a não ser um sistema piramidal, incorporará qualquer democracia direta numa estrutura de âmbito nacional de governo, e exige-se certa significativa quantidade de democracia direta parar o que quer que se possa chamar de democracia de participação. Ao mesmo tempo, partidos políticos em concorrência devem ser presumidos, e partidos cujas reivindicações não casem com coerentemente com o que se possa chamar de democracia liberal deverão ser repelidos.

Não apenas é, provavelmente, inevitável a combinação da pirâmide e dos partidos: ela pode ser positivamente desejável. (…)

Resta uma questão: poderá esse modelo de democracia participativa ser chamado de democracia liberal? Acho que pode. Evidentemente não é ditatorial ou totalitário. A certeza disso não é apenas a existência de partidos alternativos (…). A garantia está mais na presunção de que nenhuma versão do modelo de democracia participativa poderia existir ou permanecer existente sem um forte e generalizado senso do valor do princípio ético da democracia liberal (que é o núcleo de seus principais modelos): – os direitos iguais de todo homem e toda mulher ao pleno desenvolvimento e ao emprego de suas capacidades. (…) Na medida em que prevalecesse um forte senso do alto valor dos direitos iguais ao auto desenvolvimento, o modelo de democracia participativa estaria na melhor tradição da democracia liberal.” (C.B. Macpherson. A Democracia Liberal: Origens e Evolução, pp. 110-116; grifos nossos. Citado em Arnaldo Sisson Filho, O Que Há de Errado com a Política? Fundamentos para uma Verdadeira Democracia)


A Lei (ou Princípio) da Fraternidade Aplicada às Condições Sociais (1)

Amigos: Eu desejo tratar esta noite sobre a questão do princípio da Fraternidade enquanto aplicado à vida humana; como podemos usá-lo para resolver alguns dos problemas que encontramos ao nosso redor no momento presente, como podemos usá-lo para tornar possível a transição de um estágio da civilização para outro, de modo que a transição possa transcorrer em paz e boa vontade, e desse modo possa ser duradoura, em vez de em ódio e revolução, que somente pode significar um breve período da nova ordem e então um outro conflito de prolongada má vontade e miséria.

Mas se a Fraternidade deve ser aplicada à solução de nossas dificuldades, a primeira coisa que é necessária é tentar compreender o que se entende por Fraternidade, e o que ela implica. Ora, Fraternidade de nenhuma maneira implica aquilo que se chama igualdade; pois exatamente como vós achais Fraternidade na Natureza, assim vós não achais Igualdade; de fato, o próprio nome Fraternidade conduz nossos pensamentos para a constituição da família, implica imediatamente a diferença entre os mais velhos e os mais jovens, entre os mais sábios e os mais ignorantes, os que os guiam, e os que obedecem, de tal modo que se o homem visa a uma sociedade na qual a igualdade deva ser o lema, então o princípio da Fraternidade deve ser inteiramente deixado de lado.

A desvantagem de acolherdes o grito de guerra da igualdade para tentar construir um sistema social, ou mesmo para lutar numa batalha social, é que a lei natural está contra vós, e que vós estais lidando com uma ficção, não com um fato.

Não há nada mais óbvio por todo o reino da Natureza do que as diferenças da qual a ordem natural consiste; e se desconsiderardes a mais vasta ordem dos vários graus dos seres vivos, e considerardes apenas o estudo do homem, lá o mesmo princípio da diferença está afirmando-se perpetuamente. Não é a diferença de idade que sempre surge na questão de uma família; é a diferença de capacidade, de poder, de características, de qualificações.

Que tipo de igualdade é possível entre o homem forte e saudável e o aleijado ou o inválido? Que tipo de igualdade pode haver entre o homem com visão e o cego? Entre o homem com dotes de gênio e o homem que é oprimido pelo embotamento e pela estupidez?

A diferença é a lei da natureza, não a igualdade, e não há utilidade em tentar construir um sistema social sobre o qual existe somente uma ficção, pensada no estudo de doutrinários, mas quebrando-se no mesmo momento em que é aplicada à vida humana.

Aquela famosa declaração da República Americana: “O homem nasce livre” – e nesta liberdade baseando a igualdade – é negada por cada fato da vida humana. O homem nasce um bebê desamparado e dependente; e se o bebê fosse deixado ao sabor da liberdade, ele teria uma chance muito pequena de crescer até a juventude e a maturidade. Um bebê não nasce livre, mas dependente de todos aqueles ao seu redor para a possível continuidade de sua vida; e se ele não tivesse nascido dentro de um sistema de afeição e obrigação, não haveria chance para o bebê humano sobreviver às primeiras horas de sua infância.

Fraternidade e Hierarquia

É um fato notável, cheio de significado, que as duas sociedades no mundo que reconhecem a Fraternidade Universal também reconhecem uma ordem hierárquica. Tornai a grande fraternidade de Maçons. Eles afirmam o princípio da Fraternidade Universal sobre toda a superfície do globo, mas não há nada mais rígido em sua ordem e na autoridade consignada aos oficiais do que uma Loja Maçônica. (2) A hierarquia lá é reconhecida como a própria condição da liberdade. Se considerais aquela proclamação de Fraternidade Universal para a Sociedade Teosófica, exatamente a mesma coisa é vista. Lá vós tendes o reconhecimento de uma hierarquia que guia os destinos da humanidade e preside o crescimento evolutivo do homem – uma poderosa hierarquia, onde somente a sabedoria dá o direito de governar, e onde os comandos de sabedoria são alegremente executados pelos menos sábios, que reconhecem a autoridade daqueles mais sábios do que eles.

E essa, na verdade, é a condição de liberdade. Pois sem essa ordem hierárquica, onde a sabedoria governa e a ignorância obedece, não possibilidade de que qualquer coisa seja merecedora de ser chamada de liberdade. Como eu quero afirmar-vos a conclusão do que tenho para dizer esta noite, nós nunca até agora vimos liberdade sobre a terra fora das linhas desta grande hierarquia humana; nós somente vimos o governo de diferentes classes, o governo de um grupo sobre outro; mas nunca vimos liberdade, pois o homem ainda não está suficientemente evoluído para compreender aquelas condições sem as quais a liberdade não pode existir.

Olhando para este estranho fato, que as duas únicas sociedades que proclamam a Fraternidade Universal também admitem a ordem hierárquica, vejamos na grande Fraternidade do homem quão distantes estão quaisquer fundamentos nos quais uma hierarquia possa ser estabelecida. Eu estou, agora, a partir daquela grande hierarquia oculta, da qual eu falei, dirigindo-me para a humanidade comum conhecida de todos nós. Na família, na qual o princípio da Fraternidade é reconhecido, e onde dever e responsabilidade seguem com a idade e o conhecimento, lá nós temos, como se diz, uma ideia esboçada de como um Estado deveria ser.

Mas como o princípio da idade aplicar-se-ia no que diz respeito à humanidade? Pois a não ser que exista alguma coisa na raça humana que sustente, pelo menos, uma analogia com o princípio da idade dentro de uma família, nós encontraremos dificuldade para sustentar a Fraternidade, ainda mais para torná-la a pedra fundamental da sociedade nos séculos por vir.

Ora, é tão verdadeiro para a humanidade como é verdadeiro para os membros de uma família que há uma diferença de idade. Exatamente da mesma forma pela qual os membros de uma família nascem um após o outro, e todas essas diferentes idades compõem o círculo da família, assim o é com a grande família da humanidade. Os Espíritos humanos e inteligentes que compõem aquela imensa família não são da mesma idade, não nasceram todos para a existência individual ao mesmo tempo.

Diferenças de Idade na Grande Família Humana

Lado a lado com a ideia de Fraternidade surge a lei natural de reencarnação – que há uma diferença de idade nos Espíritos humanos individualizados, e que há mais velhos e mais jovens na grande família humana.

Essas diferenças de idade não caminham necessariamente com quaisquer das distinções de castas ou classes que vós encontrais na sociedade moderna, embora o grande sistema de castas da Índia tenha sido fundado sobre este princípio de diferentes idades dos Egos reencarnantes. Há muito tempo, entretanto, isto já terminou, e vós não tendes agora manifestada na terra aquela mesma ordem definida como nos antigos tempos de nossos a alma mais jovem ou a mais antiga examinando as características que o homem ou a mulher trazem para o mundo ao nascer; olhando para o caráter, as características de ser mais velho ou mais jovem saltam à vista.

A alma mais jovem incapaz de adquirir alguma grande quantidade de conhecimento, mostrando-se com muito poucas qualidades morais, muito egoísta e desejosa de obter o prazer do momento sem qualquer cuidado com qual possa ser o resultado desta ação no momento seguinte; a maneira de viver trivial, superficial e indolente; o ser levada por desejos sempre mutáveis sem nenhum firme pensamento, princípio ou vontade subjacente com os quais vós podeis contar; muito mutável, muito frívola, facilmente levada por qualquer capricho do momento – essas são caracterizadas como almas mais jovens que têm pouca experiência anterior de vida, na qual o caráter foi construído, na qual a vontade desenvolveu-se.

E quando vos deparais com aquelas de sereno julgamento, grande capacidade para adquirir conhecimento, poder para transformar conhecimento em sabedoria, firmeza de vontade, firmeza de princípios, prontas para olhar para o futuro além das atrações passageiras do momento, prontas para sacrificar um ganho temporário por uma felicidade mais ampla – em tais homens e mulheres, vós tendes as características das almas mais velhas, cujas experiências passadas têm gradualmente desenvolvido capacidades, e que trouxeram junto com elas para o mundo os frutos de longo tempo de colheitas.

Aquele grande princípio da Reencarnação deve sempre ir de mãos dadas com a Fraternidade, se a Fraternidade deve ser aplicada, se ela deve tornar-se um princípio ativo da vida diária. Pois é a partir dessas diferenças de idade entre nós que se desenvolvem todas as possibilidades de uma sociedade ordenada e feliz.

Quando as almas jovens vêm para posições de poder e riqueza, então isto é mau para a nação, pois nesse caso as crianças governam ao invés dos homens. Mas é bom para um povo no qual a sabedoria é o critério de valor e autoridade, no qual os sábios, os pensadores e os instruídos são aqueles apoiados para ter o maior direito à distinção social, onde o conhecimento e o poder caminham de mãos dadas e onde a experiência é o guia da retidão, o modelo de honra.

Somente se forem esses fatos reconhecidos – e eles crescem a partir do conhecimento da reencarnação – somente sob esta lei estável na Natureza, vós podeis construir segura e firmemente a sociedade que perdurará. Mas às vezes é dito: Se vós ides construir uma sociedade sob esses grandes princípios, então tendes que mudar a natureza humana, porque a natureza humana é egoísta, superficial, facilmente influenciável, e vós não podeis construir uma sociedade que é verdadeiramente grande a partir de pessoas triviais e superficiais. Os sábios são sempre em minoria, como, então, quereis vós obter para eles o direito e o poder para governar?

É verdade que a natureza humana precisará mudar muito do que ela é hoje, mas então ela está mudando todo o tempo – não é uma coisa nova mudar a natureza humana. A natureza humana está perpetuamente mudando assim como o século sucede ao século e a civilização sucede à civilização; e quando uma vez nós compreendermos a lei da vida, compreendermos o poderoso poder do pensamento na construção do caráter, compreendermos que a lei de inviolável consequência à qual os teósofos chamam carma, operando em cada departamento da vida humana e não apenas na natureza não inteligente, quando nós compreendermos o tempo que a reencarnação nos oferece, e a certeza de que essa lei de inviolável consequência nos dá, então começaremos a compreender que a natureza humana é uma coisa muito maleável; e justamente na proporção que compreendermos a lei, assim será a rapidez da mudança. Pensais vós que o pensamento humano é uma força fraca para mudar a natureza humana? Não é antes verdade que o pensamento é o poder que produz todas as grandes mudanças? – Primeiro o ideal, então a ação.

Deixem-me dar dois exemplos impressionantes das duas únicas nações na Europa que alcançaram a unidade nacional durante nosso próprio período de vida; uma a Itália, a outra a Alemanha. Eu somente as tomei como exemplo de nações que a partir de muitos Estados e interesses conflitantes alcançaram a unidade como uma nação; e como ela foi conquistada? Ela foi conquistada pela sustentação firme do ideal em ambos os casos, o ideal da unidade nacional.

Não até que os poetas alemães tivessem cantado por muitos anos a respeito da Pátria alemã, não até que aquele ideal de Pátria crescesse intensa e claramente nas mentes dos jovens, não até que o poeta tivesse tornado o ideal possível para que o soldado avançasse com o estadista e transformasse aqueles Estados em um único. E assim também com a Itália.

Por longo tempo antes que houvesse qualquer conversa sobre revolução ou guerra, por longo tempo antes que houvesse qualquer ideia de apelar para a espada, os pensadores italianos falaram sobre a unidade da Itália, os patriotas italianos sustentaram firmemente o ideal de uma Itália unida; e foi somente quando o ideal inflamou os corações dos jovens que houve força suficiente para o auto-sacrifício que seguiu a espada de Garibaldi, e tornou possível para a Itália transformar-se num povo unido. Pois é a partir do ideal que o entusiasmo cresce, é a partir do ideal e da aspiração de realizá-lo que o poder de autossacrifício é gerado.

O que nós precisamos fazer, então, para mudar a natureza humana, é sustentar firmemente grandes ideais perante os jovens de nosso tempo, e esses ideais inflamarão seus corações até o entusiasmo apaixonado, até que o autossacrifício seja uma alegria e não um sacrifício em absoluto, de modo que o ideal que eles veneram possa realizar-se sobre a terra. Ao longo dessa direção a natureza humana mudará; pois nunca deveis esquecer-vos que a natureza humana é divina, não demoníaca; que um Deus está no coração de cada homem, desenvolvendo os poderes da divindade; daqui o poder do ideal para inflamar e o poder do pensamento para moldar as linhas do caráter.

A Fraternidade nas Religiões

Passemos dos princípios para a prática, e vejamos quais dos problemas sociais mostram boa esperança de solução pela aplicação deste princípio (ou lei) da Fraternidade, com seus corolários de reencarnação e carma.

Evidentemente o nosso primeiro instrumento é a educação. Nos maleáveis corpos e cérebros dos jovens está a maior possibilidade de um rápido desenvolvimento de um nobre sentimento social. Como indiquei na primeira desta sequencia de conferências, a tentativa que está sendo feito em muitas direções agora para separar religião e moral, e para dar uma educação na qual a religião deverá ser excluída – que, pelas razões que eu então vos dei, e não preciso repetir, está fadada ao fracasso.

Ora, está completamente claro por que os políticos e o público, impaciente com as disputas de muitos sectários e denominações, querem pôr de lado a religião de um modo geral, e não trazer a controvérsia religiosa para dentro das escolas. Mas se vós aplicardes o princípio da Fraternidade à religião, certamente não é demais esperar que num país onde a imensa maioria é pelo menos nominalmente cristã, algum tipo de acordo possa ser feito sobre o essencial para o ensino dos jovens.

Na Índia vós tendes sectários religiosos assim como vós tendes aqui grandes divisões nas escolas de pensamento religioso; e foi dito há uns doze anos atrás na Índia, muito firmemente como vós ouvis dizê-lo aqui na Inglaterra agora: E impossível ensinar religião para as meninas e os meninos indianos, pois a disputa de seitas torna a unidade impossível, e como deveríeis ensinar as crianças sem decidir o que ensiná-las? Esse pareceu, como parece aqui, um grande obstáculo sobre a maneira de ensinar religião, e contudo em quatro ou cinco anos esta questão estava resolvida na Índia no que concerne ao hinduísmo, a religião da imensa maioria do povo.

O que foi feito? O princípio da Fraternidade foi aplicado. Alguns de nós, em acordo com alguns teósofos hindus, reunimos uma pequena comissão para assinalar quais eram as doutrinas essenciais do hinduísmo, e quais eram as não essenciais e sectárias. Após esse projeto ter sido feito, nós nos aplicamos a trabalhar para conseguir especialistas para coletar passagens de escrituras indianas que exibissem aquelas doutrinas características do hinduísmo, e, com esse material reunido, um teósofo sentou-se e escreveu um livro-texto sobre hinduísmo.

Tendo-o escrito, uma centena de cópias de prova foram feitas, e enviadas aos chefes de todas as grandes seitas hindus e escolas de filosofia. Pediu-se que eles as lessem, riscassem qualquer coisa a que fizessem objeção e sublinhassem qualquer coisa que considerassem essencial; e depois que esses livros tinham circulado por todo o conjunto de seitas hindus em disputa, eles voltaram novamente para nossas mãos com todas as emendas e sugestões. Mais uma vez nos sentamos ao redor do livro, examinamos as críticas, adotamos as sugestões mais extensamente apoiadas, com tal sucesso que, quando os livros-textos elementares e avançados em hinduísmo foram publicados, eles foram admitidos por todas as seitas da Índia e adotados como uma fiel representação das doutrinas fundamentais do hinduísmo.

Eles foram admitidos em uma escola após a outra, adotados por príncipe após príncipe, de tal modo que quando o grande governante muçulmano de Hyderabad no Deccan quis dar aos seus súditos hindus uma educação hindu em todas as escolas do Estado, ele simplesmente tomou esses livros e os colocou em todas as escolas, de maneira que os hindus entre seu povo pudessem ser instruídos em sua própria fé. A mesma coisa foi feita pelo Governo inglês no Princes’ College, em Rajputana, porque eles constataram que a educação secular produzia príncipes que eram imorais e incapazes para governar. Durante os últimos oito anos estes livros difundiram-se amplamente, foram aceitos e usados em toda a parte.

Vós pretendeis dizer-me que as divisões entre os cristãos são tão mais profundas que eles não podem fazer o que os hindus fizeram, ou que vós tendes mais com o que discordar do que concordar; e que vós não conseguiríeis ensinar as crianças naquilo em que concordais, deixando-as em sua maturidade juntarem por si mesmas as partes sectárias das doutrinas?

Na Índia, para mostrar-vos o efeito disto, um dos diretores de educação pública perguntou-me: “Não podeis vós, Sra. Besant, escrever um livro-texto para os cristãos?” Minha resposta foi: “Sim, eu poderia escrevê-lo, mas eu não creio que eles o usariam.” Ele tem de vir de alguma autoridade cristã reconhecida. Eu absolutamente admito que um teósofo o faria melhor do que qualquer outra pessoa, porque o teósofo não tem disputa com qualquer forma de crença religiosa, e porque todo o seu estudo o conduz ao longo de linhas de reconhecimento de pontos de convergência mais do que de pontos de divergência: mas não necessita ser feito por um teósofo, apenas por alguém que tenha em si o espírito da Teosofia, e tal apenas significa o espírito da Sabedoria Divina, da qual cada religião separada é uma expressão, de maneira que não deveria haver disputa com nenhuma.

Supondo que isso seja feito para todo o Império onde quer que os cristãos sejam encontrados, vede que imenso seria o benefício; e não seria tão difícil. Há certas doutrinas que vós todos aceitais se sois de qualquer modo cristãos: vós apenas teríeis que pôr aquelas doutrinas numa forma racional, inteligível, e então coletar de vossas próprias escrituras os versos que as sustentam e dando-lhes autoridade perante todos aqueles que considerem essas escrituras como autorizadas. Eu tenho tido em minha mente uma ideia que talvez possa ser executada, de tentar caso não fosse possível escrever um livro-texto universal de religião e moral, com textos de todas as escrituras das grandes religiões, de todas as Bíblias da humanidade, estendendo-lhe a autoridade em apoio da doutrina universal, e desta maneira fazendo um livro que cristãos e hindus, parses, budistas e muçulmanos poderiam usar; pois todas as suas escrituras poderiam ser citadas em apoio à doutrina geral, e cada um poderia então acrescentar seus ensinamentos específicos a esse grande e amplo fundamento, mostrando a verdadeira Fraternidade de fés. Esse é um sonho, mas eu penso que ele pode tornar-se uma realidade.

A Fraternidade na Educação

Ao longo dessa linha, então em nossa educação nós temos que ter ensinamento religioso, para que possamos ter uma firme moral. Com relação a outro ensinamento, o que cresceria a partir do princípio do Estado sendo uma grande família, com crianças de muitas idades e variadas capacidades que deveriam ser igualmente treinadas? poderia desenvolver-se um sistema de educação no qual uma ampla base comum seria dada para cada criança até a idade de dez ou onze anos, e então viria uma diferenciação de acordo com as capacidades das crianças.

Vós não insistiríeis por mais tempo, quando uma criança tivesse capacidade musical, que essa criança devesse ter um conhecimento superficial de três ou quatro outras artes, de tal modo que ela não seria boa em nenhuma, mas somente superficial em todas. Se vós vísseis habilidade musical, deixaríeis os outros pontos de lado, e a música formaria a parte predominante da educação de tal criança.

Se vós encontrásseis capacidade com as cores, com as formas, então ao longo das artes plásticas ou da pintura a criança teria desenvolvida sua capacidade natural; e lenta e gradualmente vós aprenderíeis que a capacidade artística deve passar para as artes manuais da nação, e que um grande número de meninos e meninas deveriam ser treinados para a arte manual em contraste com os produtos feitos à máquina; porque aí vós teríeis a possibilidade da beleza em geral voltar para a vida, e somente assim o sentido de beleza será cultivado através de toda a nação.

Onde vós vedes que a tendência é literária, aí não deveríeis insistir, especialmente como vós ainda fazeis com meninas, que todas deveriam tocar um pouco de música, desenhar um pouco, e todas aprenderiam a cantar um pouco; vós deixaríeis tudo isso de lado, cultivaríeis a faculdade literária onde a encontrásseis, e faríeis este o ponto especial dessa educação mais especializada.

Onde encontrásseis a faculdade científica, aquela vós faríeis a mais importante parte do currículo educacional, lembrando apenas que teríeis de acrescentar ao treinamento científico alguma coisa de literatura e de ideais, de outra maneira vossa ciência tenderá a produzir trivialidades e carecerá de uma mais ampla compreensão da vida humana.

Onde vós encontrardes capacidade para a mecânica, aí vós cultivareis esta especialmente, sempre lembrando que nenhum jovem deveria deixar a escola até que tivesse aprendido algum método de ser útil para o Estado enquanto ganhasse seu próprio sustento. Trabalho destreinado deveria ser uma coisa do passado em cada departamento da vida humana. É necessário especializar-se numa idade que seja cedo o suficiente para habilitar um jovem a aprender efetivamente aquilo que será seu sustento na vida mais tarde.

Um grande erro é feito na educação de hoje em dia, onde, quando o jovem tem de ganhar o seu sustento junto a algum trabalho manual, demasiada literatura é ensinada em detrimento da destreza manual. Vós precisais muito mais treinamento prático em vossas escolas do que tendes hoje em dia, e precisais da contínua alusão de que uma forma de atividade humana não é inerentemente mais nobre do que qualquer outra forma; que o homem que usa bem as suas mãos é tão honrado no uso delas como o homem que usa bem o seu cérebro.

O que é desonroso é que o trabalho cerebral ou manual sejam mal feitos. Vosso espírito realmente destrutivo junto a tudo isso é: “Isto já está bom; isto me basta.” Não há nada que baste a menos que seja tão bem feito quanto vós podeis fazê-lo; de outra maneira é trabalho descuidado e degradante em si mesmo. Não é o tipo de trabalho que fazeis que vos faz honrados ou desonrados; é o espírito com que o fazeis, e a qualidade de trabalho que produzis. Até que vós possais conseguir isso em toda nação – pois hoje ainda não é assim – até que vós possais devolver ao trabalhador a dignidade do artista, e não queira cada carpinteiro educar seu filho superficialmente de modo que ele possa ser um auxiliar de escritório em vez de um trabalhador manual, estragando vosso trabalho manual, sobrecarregando vossos escritórios – até que possais trazer de volta aquele equilíbrio entre o dever humano e o trabalho humano, há pouca esperança de uma sociedade sã e saudável entre vós.

Passai, novamente, desta para outra coisa que é muito necessária na educação; mas eu creio que é aprendida mais no recinto de recreio do que na sala de aula – disciplina, o senso de dever para uma vida mais ampla. Isso pode soar uma descrição exagerada do efeito de um jogo sobre um menino, mas é verdadeiro. Quando um menino é membro de um time – de críquete, futebol, hóquei, o que quiserdes, – esse menino nunca será um sucesso a menos que ele aprenda a pensar no seu time em vez de em si mesmo, e este é um eu mais amplo do que as suas próprias pretensões pessoais.

É no pátio de recreio que meninos e meninas aprendem muitas lições que os torna melhores cidadãos na vida mais tarde – o sentido de ordem, o sentido de disciplina, o executar a vossa tarefa cumprindo o vosso, papel, em qualquer posição que sejais colocado no Jogo. Vos podeis ter um lugar ou outro no campo de críquete ou no campo de futebol, mas o teste do menino é que ele faça bem o seu trabalho no lugar onde está, e que não queira estar em algum outro lugar quando o seu capitão o colocou aí. Essa disciplina moral do pátio de recreio é mais valiosa do que a disciplina da sala de aula, pois ela é voluntária , alegremente obedecida, e é estimulada por um ideal puro, não mesclado pelo medo. Eis o valor do pátio de recreio e a importância de ensinar os jovens a jogar corretamente. Pois o maior perigo das assim chamadas nações democráticas é que elas não tenham senso de disciplina, não tenham senso de ordem, não tenham senso de obediência; sem estes nenhuma nação pode ser grande.

Quando estive na Austrália pela última vez, aconteceu que um rapaz aprendiz numa mina, que fora repreendido por não fazer direito a sua tarefa, imediatamente deixou o trabalho, e então toda a mina fez greve para defender os direitos desse Jovem preguiçoso – não há muita chance de construir uma nação a partir de tais elementos; vós apenas conseguistes um amontoado de pedaços de mármore sem coesão, sem o aglutinador senso de dever ou de responsabilidade, e a partir de tais elementos vos nunca podereis construir um Estado Sem disciplina, ordem, obediência, não há possibilidade de grandeza. Mas tudo isso tem de crescer a partir da educação definitivamente baseada nestas ideias de Fraternidade de reencarnação e lei.

A Fraternidade na Criminologia

Passai deste departamento da vida, e voltai-vos para uma questão muito importante – Penologia, o tratamento de criminosos. O que é o criminoso? Os criminosos encontram-se dentro de duas classes: uma classe de almas jovens, e elas precisam ser educadas; uma outra classe de almas cujo desenvolvimento foi assimétrico ou desequilibrado de modo que o intelecto cresceu, mas a consciência não se desenvolveu lado a lado com ele – esses são criminosos muito mais perigosos e muito mais difíceis de tratar.

Ora, a alma jovem é de modo geral como um selvagem. Um homem num estágio evolutivo tão inferior, que no começo da evolução de nossa raça teria sido guiado para alguma tribo selvagem em alguma ilha ou deserto, onde a rude disciplina dessa vida selvagem teria iniciado a lapidá-lo dentro de uma imagem – rude, mas gradualmente construindo esta jovem alma dentro de um sentido de dever para com a sua tribo. Ora, como as coisas mudaram, e a evolução humana avançou rapidamente, não há lugares suficientes no mundo onde aquelas condições estão disponíveis para o gradual treinamento destas almas mais jovens.

As nações civilizadas, como as chamamos, têm-se expandido por toda a parte sobre a superfície da terra, expulsando este povo miserável para fora de seus domínios, tomando suas terras, assassinando-os, em grande medida, apropriando-se da terra, e desapossando os primitivos possuidores para o outro mundo imediato.

Que aconteceu com todos aqueles? Eles tiveram que voltar, e eles tendem pela lei natural a vir para as nações que foram mais ativas em mandá-los para fora de seus domínios. É absolutamente natural, se vós pensardes que nós vivemos sob a lei, não ao acaso; e não é, talvez, se eu posso dizê-lo com todo o respeito, muito admirável que o povo da Grã Bretanha tenha uma porção propriamente extra a cuidar daqueles infortunados selvagens. Eles vêm para os bairros pobres, e lá eles nascem realmente selvagens. Se olhardes para eles, vós os chamareis criminosos congênitos. Mas eles são realmente almas jovens, sem moralidade, sem muito cérebro, com uma certa habilidade, astúcia, destreza, mas fundamentalmente jovens.

Então encontrais outras almas que já saíram daquela mais baixa condição de selvageria, mas ainda não estão no ponto em que as restrições da sociedade, que são adequadas para as almas mais velhas sejam toleráveis para elas. E assim vós conseguis uma grande safra de criminosos ocasionais, com uma tendência a torná-los criminosos habituais.

Depois, tendes aquela outra classe da qual falei, o grupo dos assimétricos ou desequilibrados, que mencionei como sendo os mais difíceis para tratar; homens que são realmente espertos, mas que voltam a sua esperteza para pilhar seus companheiros em vez de usá-la dentro dos limites da lei. Esta é uma ampla classe. Algumas vezes eles andam justamente sobre a margem da lei, algumas vezes eles se mantêm por mínima margem dentro da lei, mas do ponto de vista social, lembrai, há muitos criminosos sociais que sempre se mantêm no que algumas vezes é chamado à margem da lei – ou seja, eles não vão para a cadeia – tal homem do qual eu falei outro dia, destruiu o sistema ferroviário de um distrito inteiro, para que a partir dos destroços ele pudesse construir para si mesmo uma imensa fortuna. Ele não é um assaltante do ponto de vista técnico, não é um ladrão que um policial possa capturar, mas do ponto de vista do carma, e do ponto de vista da justiça eterna, esse homem que por meios legais roubou milhares de outros dos seus meios de subsistência, é um ladrão pior do que aquele que bateu uma carteira e foi levado para a cadeia. Há muitas coisas num país civilizado que estão muito próximas da linha divisória entre o furto legal e ilegal, uma grande parte dos quais levam o nome de companhias de negociação de ações, onde há praticamente um jogo de cara ou coroa sobre se existe realmente fraude que possa ser provada; mas com o fato notável que enquanto as empresas sempre se arruínam, e as pessoas que tomam parte nelas são levadas à pobreza, o promotor da empresa se destaca tornando-se uma pessoa muito bem-sucedida. Agora tudo isso, do ponto de vista social, é completamente imoral, mas nós não podemos chamá-los criminosos no sentido técnico, ainda que de vez em quando eles ultrapassem um pouco os limites, e então a lei criminal os pega.

Como deveriam ser tratados aqueles que são realmente as almas jovens? Como evitaremos torná-los criminosos habituais como nós fazemos agora? – pois existe alguma coisa mais miserável e mais vergonhosa do que um homem ter que voltar repetidas vezes após cinquenta, sessenta condenações registradas contra ele no tribunal, e a sentença ficar cada vez mais longa porque ele é um criminoso habitual? Ele foi forjado para isso.

Vós não deveríeis tratar um homem que cometeu um crime contra vosso sistema legal enviando-o para a prisão por sete dias, ou um mês, ou um ano, aumentando cada vez mais a reclusão após cada retorno à liberdade provisória. Vós não tratais pessoas que estão doentes desta maneira; vós nunca encontrais um médico confinando um paciente de varíola num hospital por sete dias, nem um acometido de febre por um mês; eles são confinados até que estejam curados, e este é o caminho no qual deveríeis tratar qualquer um com marcantes propensões criminosas.

Vós não deveríeis punir, mas somente ajudar; deveríeis tomar esta alma infantil e treiná-la para uma vida decente. Pois nunca deveríeis ter em vossas prisões qualquer forma de trabalho inútil como uma punição. O criminoso que é realmente um selvagem sempre tem aversão ao trabalho; ele está sempre ocioso – isto é parte de sua juventude; e se vós lhe derdes uma forma de trabalho que é punitiva e não útil, somente aumentareis a aversão natural por cada tipo de trabalho, e fareis com que ele o odeie mais completamente ao sair da cadeia do que quando ele entrou. Obrigar os presos a transportar balas de canhão para um lado do pátio da prisão, para depois trazê-los de volta novamente, ou à inútil tortura do moinho de rotação manual, isto faz criminosos, não os cura.

Vós precisais, quando o criminoso vem para o vosso poder, tomá-lo nas mãos como tornaríeis um irmão mais jovem que não sabe como guiar a si mesmo e é seu dever como o mais velho conduzi-lo. Necessitais treiná-lo em algum negócio honesto através do qual ele possa ter um meio de vida. Necessitais discipliná-lo, não de forma cruel, mas estável e firmemente; precisais estabelecer a muito salutar lei que se um homem se recusar a trabalhar, não terá o direito de comer, e ensiná-lo na prisão a merecer o seu jantar antes de desfrutá-lo.

Deveis colocá-lo a trabalhar em negócios através dos quais ele possa ganhar o seu próprio meio de Vida, dentro das paredes da prisão; e se, após terdes ensinado a ele um negócio de modo que possa ganhar o seu sustento, e fora da cadeia ter encontrado para ele uma oportunidade de um meio de vida decente – se então ele se recusar a trabalhar e voltar novamente para vossas mãos, deveis manter aquela disciplina sobre ele até que realmente esteja curado, ainda que seja por muitos e muitos anos, pois vós estais treinando-o para um caráter melhor. Podeis tornar a vida da prisão uma desgraça menor do que ela é agora; dar-lhe diversões educativas, que elevem o espírito, ao invés de deixá-lo endurecer pelo contínuo sentimento de desgraça dentro das paredes da prisão.

Vós podeis restringi-lo – isto será necessário para o bem-estar, a prosperidade e a saúde da sociedade; mas deveríeis tratá-lo como um membro mais jovem da família nacional, para ser gradualmente treinado dentro de uma vida decente; deixai a boa vontade, de levar uma vida decente ser a única chave para a porta da cadeia.

Mas vós podeis fazer muito antes que haja necessidade de mandá-lo para a prisão. Há um sistema que está justamente começando aqui, chamado o Sistema de Provação, que tem funcionado na América com grande sucesso, e que um membro da nossa Sociedade, a Srta. Lucy Bartlett, teve o imenso privilégio de introduzir na Itália, de modo que ele foi transformado na lei do país. Agora, o que é esse sistema? Quando um jovem comete a primeira transgressão, ele não é mandado para a cadeia se alguém, um bom cidadão, de posição respeitável e boa conduta, oferecer-se como voluntário no tribunal e disser: “Eu me encarregarei desse jovem. Eu serei seu amigo e cuidarei dele.” Nesse caso a sentença não é de aprisionamento; é uma sentença que fica suspensa sobre o jovem por um tempo; e se ele não quiser ser ajudado, então a sentença será aplicada.

Mas, para dizer a verdade, é um caso muito raro. Este homem ou mulher oferecendo-se como um voluntário proveniente das classes da sociedade que não precisam trabalhar para viver, e tornando-se um amigo, para esse jovem irmão, é, na maior parte dos casos, um meio de redimi-lo do mal para o bem; o mais velho torna-se amigo dele, leva-o para passear algumas vezes, conversa com ele, trata-o realmente como um irmão ou irmã, e grande é o poder redentor do amor humano em restabelecer o respeito próprio, e grande o desejo de aprovação.

Esses são os motivos apresentados para dirigir alguém que recentemente pôs os seus pés na senda da criminalidade, e que na maioria dos casos o traz de volta à virtude; e a amizade que começou na provação segue pelo resto da vida, fortalecendo, ajudando e ensinando ambos, o ajudante e o ajudado. O sistema esteve operando por algum tempo na América, longo o suficiente para testá-lo; na Itália somente por dois ou três anos, um tempo muito curto; homens e mulheres das classes que não precisam trabalhar para viver se ofereceram voluntariamente para agir como amigos e auxiliares daquele que se enredou nos domínios da lei. Certamente não se poderia encontrar melhor aplicação da Fraternidade para o tratamento criminal do que esse; é a realização do dever daqueles que estão além da tentação do vício em relação àqueles mais jovens que caíram sob o poder do vício. Eu fui informada de que estas punições não são mais usadas nas prisões Inglesas. Se assim for, um passo de avanço foi dado.

Fraternidade e Pena de Morte São Incompatíveis

Eu dificilmente posso deixar esse assunto sem dizer uma palavra sobre a Pena de Morte. Esta, é claro, não pode encontrar defesa de qualquer um que compreenda o princípio (ou lei) da Fraternidade. Alguns de vós lembram o ditado de um satírico francês: “Que os senhores assassinos comecem”, mas não é a partir dos menos elevados que essa reforma começa, mas dos mais elevados. Não podeis esperar que vosso homicida respeite a vida humana se o ensinastes por meio de vossa legislação criminal que a pena justa para o homicídio é cometer o homicídio novamente. Em verdade, um vem da paixão e outro da lei; mas se a lei não ensina respeito pela vida humana, como deveriam as paixões do criminoso honrar a vida humana como sagrada?

Não é somente a partir desse princípio geral que tornais de pouco valor a vida humana destruindo-a mas a partir de outro muito mais importante. Vós não podeis livrar-vos de vossos homicidas; somente podeis livrar-vos de seu corpo, e seu corpo é a prisão mais apropriada na qual podeis guarda-lo. Vós podeis aprisionar seu corpo e impedi-lo de cometer quaisquer ulteriores homicídios, mas não podeis aprisioná-lo quando o expulsastes para fora do seu corpo pela forca do carrasco; vós não o matastes, não podeis matá-lo, somente matastes o seu corpo; e o expulsastes para o outro mundo, aquele mais próximo, que interpenetra este mundo e cujos habitantes estão conosco todo o tempo; vós o expulsastes para esse outro mundo odiando, blasfemando, cheio de ira e desejo de vingança contra aqueles que encurtaram sua vida. Ele age como instigador de outros homicídios e ele estimula outros criminosos para a última possibilidade de crime.

Não noticiastes alguma vez que um brutal homicídio é algumas vezes repetido e repetido novamente na mesma comunidade até que tendes um ciclo de homicídios de um tipo particular? Eu sei, é claro, que a Imprensa, ao reportar cada detalhe daqueles horrores, inspira as forças da imaginação, aumentando o poder daquele homem que mandastes para o outro mundo para produzir tentação. Num país civilizado tais detalhes de um crime brutal jamais deveriam ser dados; as pessoas deveriam entender que isto estimula a faculdade de imitação, e assim torna mais provável a repetição do crime.

Uma outra razão pela qual vós nunca deveríeis mandar um homem para o outro mundo deste modo é que quando o criminoso está em vossas mãos, considerando as vidas que terá pela frente, vós deveríeis tentar dar-lhe alguma coisa para levar consigo para o outro mundo que ele pudesse converter em capacidade e sentido de moral; deveríeis lembrar-vos que ele voltará novamente para um corpo físico; e é vosso dever fazer seu próximo nascimento tanto mais aperfeiçoado pela vida presente quanto for possível para o pensamento e o amor humanos fazê-lo. Nós temos um dever para com essas almas jovens ao nosso redor a fim de que elas possam beneficiar-se em nossa civilização, e não sofrer por sua causa como elas demasiado frequentemente sofrem hoje em dia.

Fraternidade e Economia

Quando vos voltais para a economia, qual será o resultado da (lei da) fraternidade ali? O detalhado desenvolvimento e elaboração desse problema certamente necessitará os mais agudos intelectos para planejar algum esquema de produção e distribuição que deveria tornar a vida humana menos pesada por um lado, e menos cheia de luxo inútil pelo outro.

Mas não serão resolvidos corretamente aqueles grandes e difíceis problemas ao longo das rudes e prontas linhas do Socialismo das ruas. (3) Vós deveis resolvê-los com a mais cuidadosa consideração de todos os problemas que estão interligados uns com os outros.

Algum sistema de cooperação geral, de divisão geral de lucros, ou alguma coisa ao longo dessas linhas, será o princípio por meio do qual serão mudadas as condições; mas se por um lado deveis tornar o destino dos trabalhadores muito mais suave e feliz, por outro nunca devereis dar aos ignorantes o controle sobre aquilo do qual depende o seu suprimento de alimentos; pois isso significaria a ruína.

Permitam-me dar-vos uma ilustração para mostrar o que eu pretendo. Há vários anos tem ocorrido um grande número de greves neste país, e não há dúvidas de que muitas delas foram causadas pela ação da ganância da classe empregadora, e pelo injusto tratamento dos trabalhadores; não obstante elas terem em mais de um caso – de fato, em muitos casos – reduzido os trabalhadores a uma condição inferior àquela na qual eles estavam antes.

Outro dia eu estava em Tyneside; Newcastle com seus portos vizinhos, Sunderland, e toda a costa adjacente, foi uma vez um dos grandes centros de construção de navios na Inglaterra. Greve após greve tornou impossível continuar a construção de navios, porque os homens não puderam arcar com a sua parte. O resultado é que deixou de ser um  grande distrito de construção de navios; que o comércio afastou-se largamente de Tyneside, e que aquelas regiões caíram em decadência.

Vós não podeis culpar os homens que fizeram greve. Eles tentaram conseguir melhores condições para si mesmos, porém não entenderam as dificuldades de todas essas grandes firmas comerciais, e que eles poderiam rapidamente tornar impossível a construção de navios para os proprietários de estaleiros, pressionando por um índice de salário que não parecia demasiado para os empregados, mas era mais do que as exigências do comércio permitiam aos proprietários de estaleiros pagar naquela época. E assim por diante em um número infinito de casos.

Pensamento cuidadoso e julgamento ponderado são necessários. Muitas propostas foram feitas pelas próprias uniões de comércio – uma escala móvel de salários, conselho de arbitragens, e assim por diante, todos os passos na direção certa. Mas vossa dificuldade com conselhos de arbitragem é que suas decisões não são sempre aceitas. Quando as pessoas vão para a arbitragem elas têm a esperança de conseguir uma decisão a seu favor; quando isso não acontece, elas nem sempre querem submeter-se. Quando eu estive na Nova Zelândia no ano passado, ocorrera um grande conflito entre empregadores e trabalhadores; ao final ambos recorreram à corte de arbitragem, mas quando a decisão foi dada contra os trabalhadores, eles recusaram-se a voltar para o trabalho.

Vós não podeis brincar desta maneira com essas grandes questões econômicas; nenhum mercado deveria decidir inteiramente qual deveria ser o índice de salário que é possível para os empregadores pagar, pois a questão é complicada por muitas considerações; não é um mercado, mas é um balanço de todos os mercados, sobre o qual a última decisão deve voltar-se. Daqui a necessidade de habilidade, de poder para compreender, de amplo estudo de questões econômicas que o trabalhador manual não está habilitado para contribuir.

É aqui que se encontra a dificuldade, e onde há necessidade em ambos os lados de um espírito que deseje procurar obter o bem comum de outra maneira, caso contrário ao final há somente mais problemas do que antes, e o mercado definha onde as condições para continuá-lo tornaram-se impossíveis.

Exatamente a mesma coisa está ocorrendo agora na Austrália. Os homens que conhecem as condições de mineração e coisas desse tipo estão fixando os salários que as companhias de navegação devem pagar aos seus marinheiros. Quando um navio da Companhia P. & O., por exemplo, entra em águas australianas, eles cedo serão compelidos a pagar seus homens no particular índice de pagamento que foi fixado sobre condições econômicas na Austrália. Qual será o resultado? Os navios da P. & O. não irão; eles não podem arruinar a si mesmos para agradar aos trabalhadores australianos; por isso os meios de comunicação serão amplamente cortados; e quando o dano está feito, então será tarde demais para remediar. Este é o tipo de coisa que está ocorrendo em todas as direções com a vinda de trabalhadores manuais para o poder, porque a tentativa de governar veio antes de terem sido compreendidas as condições de governar.

É a mesma coisa quando tratais com todas as questões do trabalho feminino. As mulheres reivindicam o direito de trabalhar, mas muito frequentemente elas têm esquecido que os empregadores podem se aproveitar de certas características inerentes às mulheres e que nada pode alterar, porque elas são fundamentais e naturais. Quando uma mulher assumiu a função de esposa e de mãe, e então sai para trabalhar em uma fábrica, deixando para trás os filhos e o bebê sem cuidado, ou tendo de remunerar outros para cuidá-los, os salários tendem a baixar porque ela se dispõe a trabalhar por salário mais baixo, sabendo da miséria das crianças que ela deixou em casa; então vem a cena da mulher competindo com o marido, da mulher competindo com o homem; as crianças são as sofredoras pelo afastamento da mãe para trabalhar na fábrica, e o homem é mandado embora a caminhar nas ruas porque o trabalho feminino mais barato tomou o seu lugar.

Estas são algumas das complicadas dificuldades que surgem do que parece uma coisa simples: permitir que uma mulher tenha trabalho remunerado. Mulher e homem nunca poderão ser iguais no mercado de trabalho porque a mulher é a parturiente, e aqui entra a diferença, e a questão da saúde e do vigor das nações. Ela nunca poderá exigir o mesmo salário que o homem, porque como eu uma vez ouvi alguém dizer brutalmente, quando eu estava criticando o salário de fome de algumas moças: “Sempre há algum outro meio que a mulher pode aumentar a sua renda.” Isso é verdade, impiedosamente verdadeiro; mas a põe em desvantagem na luta do mercado de trabalho. O que parecia tão promissor no início, somente aumentou o estresse das condições econômicas, expulsou o homem para as ruas, enquanto a mulher está tentando fazer o trabalho dobrado, na fábrica e em casa. Essa é uma condição inaceitável das coisas, para a qual uma solução precisa ser encontrada.

E assim, para tratar com essas questões econômicas nós precisamos os melhores cérebros e os melhores corações, o mais amplo conhecimento e a mais profunda compaixão. Esses, e somente esses, podem resolver tais terríveis problemas econômicos dessa época. Não podeis resolvê-los por um meio rude e pronto, nem por qualquer meio rápido e súbito. Tendes de resolvê-los pela sabedoria e pelo amor, compreendendo que o interesse da nação é um interesse comum, não de classe contra classe, mas de união de todos para o bem comum da comunidade.

A Fraternidade na Política

Mas então se diz: E sobre política? Sobre os detalhes dessa, francamente, eu não tenho nada a dizer, pois eu estou preocupada somente com princípios (ou leis). Mas uma coisa eu gostaria de colocar-vos, voltando àquele ponto da liberdade com o qual eu comecei. As pessoas supuseram que liberdade significa um voto. Vós não podeis cometer um equívoco maior. A liberdade e o voto praticamente não têm nada em comum. O voto dá o poder de fazer leis, para coagir outras pessoas; ele de maneira alguma vos dá necessariamente liberdade para vós mesmos. (4) Nós nunca tivemos ainda, como eu disse, liberdade sobre a terra. Nós tivemos legislação de classe de todos os tipos na Inglaterra, mas liberdade nunca.

Voltai atrás na história e encontrais os Reis governando, e isso construiu a unidade nacional da Inglaterra. Então os barões governaram, e ao todo eles não o fizeram tão mal, pois a Inglaterra era chamada a “Feliz Inglaterra” naquela época, e certamente ninguém sonharia em aplicar esse nome a ela agora. Então veio a Inglaterra dos Parlamentos, tornando-se mais e mais entorpecida, mais e mais amortecida; e depois a Inglaterra Mercantilista. E quem é nosso governante agora? Nem Rei, nem Lordes, nem Parlamento juntos, mas de um lado o Rei Dinheiro e do outro o Rei Multidão sem lei. Nenhum dos dois é um governante apropriado para tornar grande essa nação.

A Liberdade é uma grande Deusa celestial, forte, beneficente e austera, e ela nunca poderá descer sobre uma nação pelo grito das multidões, nem pelos argumentos de paixões desenfreadas, nem pelo ódio de classe contra classe. A Liberdade nunca descerá sobre a terra para assuntos externos até que ela tenha primeiro descido dentro dos corações dos homens, e até que o Espírito superior que é livre tenha dominado a natureza inferior, a natureza das paixões e dos fortes desejos, e a ambição de buscar vantagens para si mesmo e pisar sobre outros.

Somente podeis ter uma nação livre quando tiverdes homens livres para construí-la a partir de homens e mulheres livres; mas nenhum homem é livre e nenhuma mulher é livre se está sob o domínio do apetite, ou vício, ou ebriedade, ou qualquer forma de mal que ele seja incapaz de controlar. Somente o autocontrole é o fundamento sobre o qual a liberdade pode ser construída. Sem isso vós tendes anarquia, não liberdade; e cada aumento da presente anarquia é pago pelo preço da felicidade, que é dada em troca.

Mas quando a Liberdade vier, ela descerá sobre uma nação na qual cada homem e cada mulher terão aprendido o autocontrole e o auto-domínio; e então, e somente então, a partir de tais homens e mulheres que são livres, fortes, justos, governando a sua própria natureza e treinando-a para os mais nobres fins – somente a partir destes vós podeis construir a liberdade política, a qual é o resultado da liberdade do indivíduo, e não o resultado dos conflitos das paixões dos homens.”

NOTAS:

(1). BESANT, Annie.  O Mundo de Amanhã. Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1926. 269 pp. (pp. 103-139 ). Edição original: The Changing World. London, The Theosophical Publishing Society, 1910, pp. 75-102; grifos nossos.

(2). O Sistema de Parlamentarismo Escalonado proposto pela Ir Annie Besant 33°, que chegou a ser MPG da Federação Inglesa da Ordem Maçônica Mista Internacional “Le Droit Humain”, é, no mínimo, semelhante ao Sistema Hierárquico da Maçonaria, estruturado em Conselhos escalonados por diferentes Lojas e graus distintivos conferidos por serviços prestados. A Sra. Clara Codd, em seu livro As Escolas de Mistérios, chega a afirmar que Francis Bacon (1561-1626) teria sido “o verdadeiro fundador da Franco-Maçonaria moderna, pela qual, estou certa, tentou indicar a forma ideal de Governo”. (CODD, Clara. As Escolas de Mistérios. Brasília, Ed. Teosófica, 1998. p. 110). (Nota da edição brasileira.)

(3)  A Dra. Besant considera a questão em sua obra Brahmavidyâ: O Socialismo do nosso tempo é a sublevação do pobre contra o rico, o pobre levado ao desespero pelas suas condições, e cada vez mais enfurecido por testemunhar o luxo em torno dele. Que mais se pode esperar do ignorante? Ele está constantemente mourejando, e vendo que outros, sem trabalhar, divertem-se, É inevitável que isso cause revolta”. (BESANT, op. cit. nota 6, p. 102). Dra. Besant chegou a ser socialista militante da Sociedade Fabiana em sua juventude até 1889, então conheceu a Sra. Blavatsky e passou a preferir o que ela chamava de “Socialismo do Amor”. (Nota da edição brasileira.)

(4) Particularmente, no caso do voto direto tradicional exercido pelo eleitor a cada período de mandato, geralmente a cada quatro anos, quando o eleitor mais parece estar passando uma procuração de plenos poderes pelos próximos quatro anos para o seu candidato escolhido, que frequentemente ele nem conhece pessoalmente, e talvez jamais venha a conhecer, pois num distrito muito grande a relação pessoal direta pode tornar-se virtualmente impossível. No sistema proposto pela Dra. Besant, o eleitor continua podendo votar a qualquer momento e não apenas a cada quatro anos, se tanto, porque o micro distrito, por ser pequeno, facilita a descentralização, a autonomia, a participação nas decisões e até a reconvocação de eleições a qualquer momento por abaixo-assinado, se necessário. (Nota da edição brasileira)